O sistema judiciário tem papel fundamental na manutenção da ordem, da justiça e da igualdade. No entanto, episódios recentes trouxeram à tona uma percepção cada vez mais comum entre parte da população: nem sempre os tribunais conseguem entregar aquilo que se espera deles. O debate não se resume a críticas isoladas, mas se amplia quando decisões aparentemente incoerentes ou desproporcionais geram reações fortes de indignação, tanto por cidadãos comuns quanto por especialistas do Direito.
Em algumas situações emblemáticas, casos com evidências contundentes resultaram em decisões que surpreenderam pela brandura ou pela absolvição. Isso não apenas choca a sociedade, como alimenta a sensação de impunidade. A confiança no sistema começa a ruir quando pessoas com menor poder aquisitivo enfrentam penas severas por delitos simples, enquanto outros, envolvidos em situações mais complexas, encontram caminhos mais brandos por entre as brechas da lei.
As desigualdades estruturais do Brasil encontram eco nesse cenário, onde o acesso à justiça muitas vezes depende do capital social e econômico do réu. O direito à defesa é universal, mas a qualidade dessa defesa varia drasticamente conforme o poder financeiro de quem está diante do juiz. Dessa forma, a própria ideia de equidade perde força, gerando um ciclo contínuo de exclusão e desconfiança. Para muitos, a justiça ainda é distante, cara e seletiva.
Esse panorama acende um alerta preocupante. Quando decisões judiciais passam a ser questionadas por aqueles que conhecem profundamente o funcionamento das leis, algo precisa ser revisto. O problema não está, necessariamente, em um único juiz ou tribunal, mas em todo um sistema que, por vezes, falha em se atualizar, reconhecer seus erros e combater a influência externa de pressões políticas ou econômicas que afetam a imparcialidade.
A população percebe essas falhas não apenas nas manchetes, mas no dia a dia. Há casos em que o tempo de espera por um julgamento ultrapassa anos, prejudicando não apenas acusados, mas também vítimas que nunca veem o desfecho que esperavam. O sentimento de frustração cresce, pois o que era para ser um instrumento de proteção e reparação torna-se mais uma fonte de dor, desgaste e desamparo. A consequência é o enfraquecimento do pacto social.
Além disso, o sistema judicial brasileiro ainda carrega marcas históricas de exclusão. Ao longo do tempo, a desigualdade se cristalizou de maneira que certos grupos continuam sendo os mais afetados pelas falhas institucionais. Essa realidade é agravada pela lentidão de reformas e pela resistência a mudanças estruturais que possam tornar a justiça mais acessível, transparente e eficiente para todos os brasileiros, independentemente de sua origem ou condição.
É importante lembrar que a crítica ao funcionamento do Judiciário não representa um ataque às instituições, mas sim uma exigência por melhorias. A transparência e a prestação de contas devem ser pilares constantes de qualquer setor que lida diretamente com os direitos e a liberdade dos indivíduos. Quando uma decisão judicial impacta negativamente a sociedade, o debate público se torna essencial para promover avanços e evitar repetições.
Portanto, refletir sobre os recentes acontecimentos é urgente. O sistema de justiça precisa ouvir a sociedade e reconhecer que também pode falhar. Só assim será possível evoluir e resgatar a confiança de um povo que ainda vive sob o peso de profundas desigualdades. A busca por um país mais justo depende de um Judiciário que se mostre sensível, coerente e, acima de tudo, comprometido com a verdade e com a equidade.
Autor : Yury Pavlov